Nascentes que resnasceram
Por Marinês Eiterer
Eu foi procurada há 2 anos por dois proprietários apreensivos com a redução da vazão de nascentes de suas respectivas propriedades, no Paraíso. Na época sabia muito pouco sobre nascentes. Conheci um curso de proteção de nascente do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) que capacitava o proprietário rural a construir uma caixa fonte para proteger a nascente e melhorar a captação de água, para as propriedades rurais. Passei a organizar esses cursos. Trabalhamos em 3 propriedades, no Paraíso, onde está a cabeceira do ribeirão São Bartolomeu, importante ribeirão para o abastecimento do município de Viçosa. De lá pra cá boas mudanças aconteceram.
Quem mora na área urbana recebe água e paga por ela, através do sistema de capacitação e abastecimento do município. A captação de água para abastecimento de uma propriedade rural é de responsabilidade de seu proprietário. Os proprietários captam água de poços ou de nascentes. A captação de nascente, muitas vezes é feita de forma errada e água usada não é de boa qualidade. Para saber se a água do poço ou da nascente está contaminada ou não, o proprietário precisa fazer pelo menos uma análise de água por ano. Ter água de boa qualidade na área rural, não sai de graça.
O modelo apresentado pelo SENAR é chamado de 'caixa fonte', o modelo usado foi adaptado do modelo Caxambu desenvolvido pela Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri-SC). A Caixa fonte foi criada para proteger a nascente do assoreamento e para melhorar a captação de água para propriedades rurais. É uma tecnologia social de baixo custo.
A montagem da caixa tem uma resposta imediata na melhora da captação de água para a propriedade, o que deixa o proprietário rural satisfeito com a intervenção. Isso cria uma relação de confiança. Dessa forma foi possível mostrar outras intervenções necessárias, essas sim, para o aumento de vazão da nascente. Em uma dessas propriedades foram construídas caixas secas e terraços e o resultado após as chuvas foi muito bom, com uma excelente melhora na vazão. Junto com as intervenções no solo foram plantadas 300 mudas de árvores, doadas pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF), em toda área de preservação permanente.
Todos os proprietários foram orientados quanto ao cercamento das nascentes e as intervenções que podem ser feitas na área de recarga da nascente. Mas esbarramos em dois problemas os custos, cercar nascente não é nada barato, assim como fazer todas as intervenções. E, em alguns casos a área de recarga está em outra propriedade. Como este outro propriedade vai aceitar fazer intervenções na sua propriedade?
Todos os relatos que li ou ouvi contam que quando as intervenções são feitas de forma correta a água volta em pouco tempo e depois toda a fauna. E o que também estamos vendo aqui. Mas, os proprietários precisam ter acesso a politicas públicas, como o pagamento por serviços ambientais e ajuda para minizar os custos para a produção e conservação da água. Esperamos poder contar com toda a sociedade que também precisa da água que é produzida aqui.
Marinês Eiterer é
bióloga, moradora do Paraíso, em Viçosa MG. Ela
faz parte da Associação de Comunitária do Paraíso. É administradora da página do
faceboook denominada "Recuperadores de nascentes", ajudou a criar a Associação
de Observadores de Aves e administra o blog e a página do
facebook, com o mesmo nome
. Ela acredita que o associativismo e o trabalho colaborativo podem
mudar a realidade local, por isso dedica parte de seu tempo a essa tarefa. Além de trabalhar como consultora botânica. Contatos: WhastApp para (31) 9 9758-8756
O que diz nosso patrocinador
Carlos Dantas
Proprietário / Boca Viçosa
”Há três anos conheci a Marinês por intermédio do professor Rômulo Ribon. Por acreditar no potencial dos seus projetos, a Boca Viçosa firmou uma parceria com a Marinês, onde apoiamos financeiramente os projetos ambientais e sociais propostos sempre que nos foi solicitado. Nossa contribuição foi literalmente uma gota d' água neste processo. No entanto, ressaltamos a importância da iniciativa privada apoiar projetos que despertem o sentimento de responsabilidade local com o ambiente e tragam benefícios para a nossa sociedade.“